Aristides de Sousa Mendes: ruínas por um herói acidental
A verdadeira medida da grandeza de um povo, se ela realmente existe, não é o seu passado, é a forma como se recorda dele. Não são os seus heróis, são aqueles que escolheu para o serem. Quando, há uns anos, a RTP lançou aquela tolice de eleger, por telefone, o melhor português de sempre, escrevi que se tivesse de o escolher não optaria por um estadista. Nem sequer por alguém que se tivesse notabilizado por uma luta política continuada. Nem um escritor, nem um intelectual. Escolheria um herói acidental. Alguém que, movido por algo mais instintivo do que qualquer convicção ideológica, arriscasse quase tudo da sua vida. Teria escolhido Aristides de Sousa Mendes. Não era um político. Era um burocrata que nem sequer tinha uma história de oposição ao regime ou de apoio à causa democrática. Muito pelo contrário. E é por isso mesmo que o seu exemplo é tão poderoso.